jueves, 8 de mayo de 2014

Momentos - micro ou macro

No nosso dia-a-dia, quando acordamos, sabemos como vai ser o dia, ou pelo menos temos um plano de como será. Se tudo correr bem, tudo será como planeado. Por exemplo, vou trabalhar, depois ao ginásio, se der tempo vou ao supermercado, etc. Pensamos sempre nestes "macro" momentos que descrevem o dia-a-dia e desvalorizamos os micro momentos que vamos ter.

Os micro momentos são pequenas situações que ocorrem durante o dia e que, normalmente, ficam para nós e acabamos por esquecer. Por exemplo, uma pessoa no autocarro tinha uma t-shirt do CR7,  a pessoa à frente na fila do supermercado tinha um perfume estranho, uma pessoa falou comigo sobre a doença do seu filho, um pássaro voou mesmo sobre a minha cabeça, etc. São coisas que durante uns segundos têm relevância e ficamos a pensar nelas, mas de repente já nem nos lembramos. Também ninguém nos vai perguntar sobre isso, porque são situações "random" e que "não interessam".

Hoje dei por mim a pensar na forma como estes mini momentos contribuem tanto para a nossa vida. São tantos esses momentos diariamente...porque não os valorizamos?
Desde que estou no Panamá sinto que estou muito mais atenta e que registo mais micro momentos - não me esqueço tão facilmente. Muitas vezes são estes "pedacinhos" do dia que me inspiram a escrever o blog.

Hoje um dos meus mini momentos foi quando falei com a senhora que limpa o escritório e ela me contou um pouco da sua vida. Podia ser só um micro, mas decidi transformá-lo num grande momento, porque não me quero esquecer desta conversa.

Tinha deixado o meu passe do autocarro em cima da mesa e ela perguntou se eu também andava de bus. Ficou surpreendida que eu também o usasse.

Depois começou-me a contar que ela também vinha de autocarro e que era a rota mais perigosa, porque havia uma parte da estrada em que só cabia o autocarro e havia ribanceiras dos dois lados e ela tinha muito medo que caísse. Mas disse-me que já estava habituada a viver longe e vir trabalhar para a cidade.

Também me explicou que mora muito longe e que tem de acordar ás 3h da manhã, porque só tem água de manhã. Antes de ir para o trabalho tem de lavar a casa, a roupa, a loiça e preparar o pequeno-almoço e almoço. Tem de lavar a roupa à mão, porque também não tem luz e por isso não tem máquina.

Quando sai do trabalho, demora muito a chegar e tem de ir ao supermercado todos os dias, porque também não tem frigorifico. Cozinha o jantar, arruma a casa, prepara as coisas para os filhos e deita-se às 11h da noite.

Disse-me isto tudo com a cara mais tranquila do mundo, como se fosse uma rotina normal. As únicas coisas que ela queria eram: ter água, luz e mais horas de sono. Mas disse-o como algo nunca alcançável, como um desejo por algo extraordinário.

E perguntou-me onde eu vivia. Senti-me a pessoa mais egoísta do mundo, porque me queixo de acordar às 6h30 da manhã. E quero sempre algo que não tenho. E não me dou por vencida, não penso que é inalcançável. E tenho objetivos muito mais fúteis que ter água e luz. Há dias que me queixo de tudo e mais alguma coisa.

Ela ali estava a limpar, sem sonhos.

Ela continuou a trabalhar e eu também. Este podia ser apenas um mini momento, mas não podia deixar que assim fosse. Não posso fechar os olhos, embora sinta que não há muito que possa fazer para ajudá-la. Mas não posso esquecer o que me disse. Afinal são estes micro momentos que completam o nosso dia e são mais "nossos" que qualquer outro momento.

Espero que estejas a pensar "naquilo" que te aconteceu hoje :)

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