lunes, 24 de marzo de 2014

TEDx Panama City

Sábado de manhã fui à Conferencia TEDx, em que o tema era o futuro do Panamá. Algo surpreendente: a maioria da assistência era do Panamá. Surpreendente, porque o bilhete era relativamente caro para o nível de vida do país (claro que não foram pobres, mas mesmo assim…) e também porque releva que começa a existir um “acordar” para estes temas e uma vontade de ser mais participativo na criação de um país melhor.

A maioria dos oradores também era do Panamá e falou-se de temas como: protecção ambiental, recolha e tratamento do lixo, pensar num crescimento sustentado, protecção das crianças e aposta no desenvolvimento das mesmas para a preparação de uma futura geração mais instruída e preparada; importância da música, da palavra e da tecnologia. Temas bastante interessantes, alguns discursos mais animados que outros, mas no geral foi uma boa conferência.

Claro que muito do que se falou me surpreendeu, porque as preocupações são muito distintas das que estamos habituados. Por exemplo, mais do que falar de reciclagem, há ainda a preocupação de recolher o lixo e não deitá-lo simplesmente num sitio onde seja menos incómodo. Não se fala em não bater nas crianças, mas sim em não bater em crianças com objetos, como cintos e outros que, para dizer a verdade, não entendi bem e prefiro não vaguear muito sobre o tema. Falou-se de que uma criança devia ser um cidadão desde que nasce, mas não: só aos 18 anos, um panameño é considerado um cidadão e a partir desse momento adquire direitos. E muitos outros temas, que foram abordados numa perspetiva muito diferente do que eu podia esperar.

Foi muito interessante, porque é TED e só por isso já uma forma muito estimulante de abordar assuntos importantes de forma simples e resumida e para mim foi ainda mais curioso, por ouvir as ideias destas pessoas que estão a ver o seu país crescer de uma forma muito mais rápida do que alguém pode estar preparado.

Muitas vezes, quando surge o tema de que Portugal é um dos PIGGs e que realmente estamos numa situação económica difícil, tento sempre explicar um pouco da história. Há quarenta anos saímos de uma ditadura e passado 12 anos já estávamos numa União Europeia, que nos pedia e exigia que fôssemos "evoluídos" e conscientes das decisões que tomávamos. E em Portugal andávamos felizes a descobrir as alegrias e riquezas de um mundo novo, que até então parecia tão longe. Brincámos na festa, até que chegou a "mãe" e disse que era hora de ir embora, porque amanhã tínhamos de trabalhar. E fizemos birra e não quisemos acreditar que não podíamos ficar a brincar até tarde. E depois ficámos de castigo. E com razão! Temos de aprender que há momentos para tudo...Mas a verdade é que éramos uma criança que estava ainda a aprender as regras e nos puseram frente a decisões de adultos, sem qualquer preparação. A culpa é nossa, mas não somos os únicos culpados nesta história. A alguns "adultos" não lhes interessava ensinar às crianças...

E em Portugal continuamos muito alienados da política e ainda não estamos "culturalmente formatados" para percebermos o quão as nossas ações podem ser importantes para o futuro. Somos um pouco resignados, como durante anos nos ensinaram a ser, durante uma época de ditadura. E digo "somos", porque eu já não nasci nessa época, mas cresci e fui educada por pessoas que sim; toda a sociedade demora tempo a aprender a adaptar-se a uma nova cultura e, na minha opinião, demora algumas gerações.

No Panamá a situação é semelhante: há 23 anos estavam em ditadura, vieram os "gringos" para os salvar. E de repente acordam e há arranha-céus por toda a cidade, dinheiro que chegue e sobre para tudo (mas só para alguns). E com todos os recursos que têm, não sabem o que fazer - por onde começar! E dia após dia veem o seu país a mudar, tão rápido que eles nem entendem. Antes de que eles possam pensar como vai começar, já aconteceu, já foi...

E as perguntas são: Quando acaba a festa? Quando é que a "mãe" vem buscar? Qual é o castigo?
E não esquecer que esta é uma festa onde não há comida para todos; muitos nem água potável têm, nem acesso a cuidados médicos. Mas o castigo no fim vai ser igual para todos, não é?

Parece-me muito importante começar a falar do fim da festa e por isso esta conferencia faz todo o sentido e fiquei muito feliz por poder participar.

Desculpem que hoje o tema tenha sido um pouco mais sério, mas já deviam ter entendido que há momentos para tudo: nem sempre pode ser brincadeira! ;)

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